Escrever com a luz
Um lambe-lambe me ensinou a escrever com a luz
para guardar memórias no sistema límbico.
Lentes de vidro - recortadas por um retângulo -
substituem minhas retinas.
Por elas, coleciono detalhes poéticos de cenas cotidianas.
Muito mais do que guardar rastros de instantes,
meu impulso diário é registrar texturas
compor memórias em mosaico.
O que enquadrar?
O que tirar do quadro?
Mirar o foco no primeiro plano?
Ou no detalhe do fundo?
Guardo registros em caixas e álbuns.
Quando os revisito,
sou tomada por prazer ao descobrir detalhes do acaso
ao descobrir novas histórias a contar.
O instante da fotografia é a-tem-po-ral.
As imagens não são prisioneiras dos momentos em que foram captadas.
Revelam inúmeras histórias:
as minhas e as de outras pessoas.
Escritos a luz conectam córtex, hipocampo e amígdala de vários seres:
conhecidos ou não
contemporâneos ou não.
*Poema de Cyntia Silva. Publicado em Quinta Maldita, julho/2020.
Em dezembro de 2023, participei do projeto “Poesias Entrelaçadas” do INQUIETUDES ARTES Instagram@ in.quietudes.artes.
Aqui tive meu poema lido pelo Alle Mota.